Anestesiologia: é possível aprender com os meios digitais? 

Um dos temas mais discutidos dos últimos anos ainda é o aprendizado na era digital. As novas tecnologias vêm ganhando cada vez mais espaço e possibilidades na educação e após o início da pandemia de Covid-19, devido ao isolamento social, garantiu um lugar de destaque no ambiente escolar. Com o ensino e aprendizado da Anestesiologia não foi diferente.

Roseny dos Reis Rodrigues, anestesiologista e intensivista do Hospital das Clínicas e Hospital Albert Einstein e diretora de comunicação da SAESP, aponta que o aprendizado na era digital tem muitas vantagens e desvantagens, que estão intrinsecamente relacionadas. Entre os pontos positivos, ela cita que “o aprendizado é bem mais rápido com o digital. Lembro que quando eu era estudante de medicina e precisava ter acesso a um artigo, eu precisava comprá-lo e levava dois meses para ter acesso. Hoje, tudo é muito acessível”, completa. 

Sobre as desvantagens, um tópico, que a doutora considera mais como uma limitação, é o fato da era digital ser menos democrática em relação a quem não gosta e para quem tem dificuldades com a tecnologia. “Temos sempre que lembrar de todo mundo ao passar a informação”, afirma ao ressaltar a importância de entender que há pessoas com dificuldades em utilizar a tecnologia.  

Outro assunto muito debatido nos últimos anos é a averiguação de informações na internet. Para a doutora Roseny, esse “é o ponto mais fundamental. Eu sou uma pessoa que gosta de tecnologia e da internet. Eu adoro utilizar as redes sociais para pesquisar, para buscar o que as pessoas estão falando, sobre todos os assuntos e não só em ciência. Mas eu tenho, também, um compromisso comigo mesma de confiabilidade de informação. Porque há várias pessoas vendendo diversas coisas na internet sem nenhum selo de qualidade, sem nenhuma chancela de seriedade e conhecimento. Às vezes, o produto tem uma linda apresentação e não tem embasamento científico por trás, o que é muito perigoso”.

Dicas

A dica da médica para todas as pessoas, sejam anestesiologistas e profissionais da medicina ou pacientes e público leigo é: “toda vez que você for olhar qualquer coisa na internet, seja ciência ou não ciência, busque a real motivação daquilo. Falando de anestesia, busque uma referência sólida, verifique se o que a pessoa está falando é verdade e se é fundamentado em ciência baseada em evidência”. E por que isso é importante? “Porque os interesses são vastos. A pessoa pode vender qualquer coisa, porém sempre temos que ser pautados na verdade e na ciência. Recapitulando, a internet é maravilhosa, mas nós, enquanto consumidores, temos que ter a capacidade de filtrar o que está sendo passado”, acrescenta. 

Em relação à discussão ensino tradicional versus ensino com o uso de tecnologias, Roseny acredita no equilíbrio entre os dois. “Não acho que temos que superar o tradicional. Contudo, o ensino tradicional deve saber inovar e olhar para o novo e deve agregar as coisas boas. Não devemos ter uma visão maniqueísta da vida: o velho é o tradicional e o novo é o digital. Temos que nos reinventar, utilizando as bases científicas chanceladas do tradicional e a roupagem do novo. Para, assim, termos um mundo ideal”, defende. 

As informações seguras e confiáveis não estão só nos livros. É possível encontrá-las na internet utilizando o Pubmed, por exemplo, contudo a doutora também ressalta que é necessário fazer alguns filtros, como verificar se são revistas de maior ou menor impacto e quais são os estudos mais relevantes. 

E como aprender a fazer esses filtros e encontrar informações confiáveis na internet? “É algo que você vai aprender com o tempo, com a experiência. E não podemos ter medo de pedir ajuda. E aqui entra o tradicional. Os professores são os facilitadores do processo. Eles não têm que me dar o conhecimento pronto, mas, sim, me mostrar o caminho das pedras, para que eu possa desbravar. Isso é o tradicional se encontrando com o novo. Não podemos esquecer de aprender com nosso passado e com nossos erros. É muito importante olhar para o tradicional com respeito e desbravar o novo”, finaliza.

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