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Inovação tecnológica, ciência de dados e o futuro da anestesia no Brasil: foco na segurança do paciente!

Entrevista

18/02/2023

Imagine um centro cirúrgico com equipamentos de última geração, equipe médica especializada e o que tem de mais avançado em farmacologia à disposição. O anestesiologista, posicionado ao lado do paciente, tendo em suas mãos uma quantidade enorme de dados marcados minuto a minuto utilizando... papel e caneta? Foi essa cena que causou tanto espanto quanto incômodo no Dr. Diogenes Silva, anestesiologista e sócio afiliado SAESP, membro do Núcleo de Inovação Tecnológica da Instituição e fundador da Anestech. A partir desse momento, no início dos anos 2000, o médico começou a buscar formas de unir as suas duas paixões, saúde e tecnologia da informação, para aprimorar a segurança do paciente por meio da “jornada do dado”. 


“Eu programo desde 1984. Quando cheguei na anestesia, eu já tinha um gosto muito grande por estatística, que foi a forma que encontrei de juntar a informática com a medicina ainda durante a faculdade, fazendo trabalhos de epidemiologia”, conta Dr. Silva, graduado em medicina pela Universidade Federal de Santa Maria (RS) e especialista em anestesiologia pelo CET-SBA do Centro Médico de Campinas (SP). Ele explica que quando começou a sua residência médica em anestesia já tinha concluído um MBA na área de gestão de saúde. Então, segundo ele, conhecia a posição do anestesiologista no mercado de saúde e “já entendia o centro cirúrgico como a principal cadeia produtiva do hospital”. 


Dr. Diógenes e seu sócio, Leandro Nasciutti, criaram a Anestech em 2012 com o “objetivo de promover procedimentos mais seguros, melhorar a proteção legal dos envolvidos, ajudar na gestão dos recursos (insumos hospitalares) e de agregar valor à toda a jornada do paciente, valorizando o trabalho do anestesiologista dentro dessa rede e não mais isolado no centro cirúrgico”, explica. Os produtos da Anestech são hoje utilizados por instituições públicas e privadas no Brasil, além do uso por médicos adeptos da ferramenta ao redor do mundo. 


Dados, inovação tecnológica, segurança e inteligência aumentada

“O prontuário anestésico é o mais rico do hospital”, afirma Diógenes. Ele conta que por entender que a ciência de dados ajuda a promover melhores condições de saúde para as pessoas, foi um grande estranhamento chegar no centro cirúrgico e se deparar com o anestesiologista imputando dados no prontuário minuto a minuto sem uma ferramenta específica para isso, que facilitasse não só a gestão de insumos e o faturamento, mas sim que entregasse mais informações aos profissionais e ao sistema de saúde.


“Eu fui estudar o relatório de anestesia e vi que ele foi criado em 1894 para uma análise assistencial e, nos últimos 30 anos, não serviu mais só para isso. Serve principalmente para fazer faturamento e esse é o grande paradoxo. Mesmo que eu faça um prontuário com uma quantidade enorme de dados, muitas vezes eu não estou fazendo um documento clínico, estou fazendo um documento para faturamento”, opina. 


“Eu sabia, com a epidemiologia, que a maneira com que o dado é coletado impacta no resultado das análises”, diz o médico, enquanto explica a razão da plataforma ser indicada para uso em tablets direto no centro cirúrgico. “A informação certa, na hora certa e nas mãos da pessoa certa, como o anestesiologista, que é um médico de resultado imediato, tem um enorme poder”, defende. Contudo, o panorama inicialmente encontrado pelo profissional foi de dados que não eram utilizados e perda de toneladas de informações que poderiam ser úteis. Tudo isso em um cenário global de falta de acesso a cirurgias seguras por grande parte da população, é ainda mais alarmante. 

“Você não conhece aquilo que você não mede”, diz Dr. Diógenes. “Existem três maneiras de trabalhar dados em saúde: auditoria, investigação e qualidade, que é o acompanhamento dos indicadores. Ou seja, não basta coletar o dado, é preciso fazer o acompanhamento dos indicadores e ir além, pegar esse dado, transformá-lo em informação, e então em conhecimento para, por fim, transformá-lo em comunicação”, afirma. 


A inteligência aumentada em anestesia surge a partir do momento que “essa informação analisada é trazida para virar conhecimento em tempo real para o anestesiologista, é a união do conhecimento do profissional com o “conhecimento” da máquina”, explica.


Futuro da anestesia no Brasil

Segundo o Dr. Diógenes Silva, o panorama da anestesiologia nacional segue por dois caminhos. “O primeiro é um caminho nefasto, que muitos anestesiologistas estão enxergando por perceberem que estão cada vez mais perdendo valor no mercado. Isso porque os especialistas estão atrelados a uma maneira de trabalho e entrega de valor às instituições que, do ponto de vista assistencial, é muito valiosa, mas do ponto de vista de relacionamento e valor agregado, não foi trabalhada nos últimos 30 anos”, opina. Para o médico, nas últimas três décadas o anestesiologista ficou melhorando e educando a si mesmo, performando, mas sem olhar para o cenário de saúde como um todo. 

Já o segundo caminho é dos anestesiologistas que entendem que “o mercado de saúde terciário é um mercado cirúrgico, em que cerca de 60% dos pacientes que dão entrada do hospital são encaminhados para alguma cirurgia ou procedimento diagnóstico ou terapêutico”, afirma. O centro cirúrgico, nesse caso, é visto como uma esteira produtiva e o anestesiologista tem um papel central em fazer com que ela funcione bem, além de expandir a sua atuação por meio do seu cuidado com o paciente, desde a avaliação pré-anestésica até o pós-operatório tardio (30 dias ou até dois anos após a alta). “Isso agrega valor ao trabalho do profissional”, defende. 

Ou seja, “tem o anestesiologista convencional, que está vendo o futuro nefasto, e tem o anestesiologista mais antenado que o mercado mudou, que analisa os seus dados, seu trabalho de anestesia, de analgesia e de cuidados perioperatórios. Todos têm muito valor, mas esse segundo profissional está enxergando mais oportunidades”, resume Dr. Diógenes Silva.

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